segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Alunas da Escola Victório Bravim são classificadas para as oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP)


Duas alunas da EEEFM Victório Bravim estão classificadas para as oficinas regionais da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP), que acontecem nos meses de outubro e novembro.  Este ano, o tema da olimpíada é “O lugar onde eu vivo”. Lorena João Daniel, 16 anos, viaja para São Paulo (SP), e Laysa Gilles Guide, 13 anos, vai para Fortaleza (CE).

Os dois textos já passaram pelas comissões escolar, municipal e estadual. Com a classificação para a regional, as duas estudantes já garantem a medalha de bronze na OLP. Durante as oficinas, elas terão uma programação de estudo e aprimoramento de textos, além de uma programação cultural. As oficinas reúnem 125 professores e 125 alunos de todo o Brasil.  A Olimpíada de Língua Portuguesa acontece de dois em dois anos, para os alunos.

Lorena João Daniel, 16 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio – que já foi classificada na edição passada da OLP – participa da categoria “Artigo de Opinião”. Com o tema “Água”, ela fez um texto que fala sobre as bombas de irrigação. Ela é acompanhada pela professora Luciene Gilles Guidi.
 As duas seguem para São Paulo, onde participam das oficinas nos dias 25, 26 e 27 de outubro. “É uma experiência enriquecedora, tanto para professores e, principalmente, para os alunos”, ressaltou Luciene.

 Laysa Gilles Guidi, 13 anos, que cursa o 7º ano, participa da categoria: “Memórias Literárias”. Sob orientação da professora Ana Paula Breda, a estudante escreveu um texto baseado na história do Sr. Nelson Calvi, que trabalhou durante mais de 40 anos na fábrica de ferramentas LP, em Araguaia.  A oficina dessa categoria acontece em Fortaleza (CE), nos dias 16, 17 e 18 de novembro.

A EEEFM Victório Bravim ficou em 1º lugar entre as escolas públicas estaduais no Enem 2015. O resultado, que foi bastante comemorado, foi divulgado no início deste mês.


Confira os textos classificados


Texto 1
Autora: LORENA JOÃO DANIEL, 16 anos
3º Ano do Ensino Médio
Água: a solução está nas bombas?

Entre montanhas e vales, na Região Serrana do Estado do Espírito Santo, encontra-se Victor Hugo, uma comunidade basicamente agrícola, onde as famílias sobrevivem da produção de café e hortaliças. Lugar tranquilo, de poucos habitantes, mas que também enfrenta problemas.
Atualmente, grande parte do país sofre com a crise hídrica, e nessa localidade não é diferente. Com o uso inadequado das nascentes, agravado pela falta de chuva, muitos rios e córregos diminuíram seus níveis ou até secaram. Essa situação atingiu a todos, inclusive aos agricultores, dando início à seguinte polêmica: Será que é justo e aceitável privar os produtores de irrigar suas plantações para que se possa priorizar o abastecimento humano e a dessedentação animal? Tal questão foi gerada a partir da medida do governo estadual em conjunto com os municípios de restringir o uso de bombas de captação de água para irrigação e aqueles que não obedecessem à solicitação seriam notificados e posteriormente multados, tendo suas bombas lacradas.
Pessoalmente, acho que isso é injusto, pois ao mesmo tempo que se tenta amenizar o risco da escassez para uns, provoca-se sérias consequências para outros. É indiscutível que a partir do momento que não se pode irrigar em determinadas horas, várias culturas agrícolas, por serem mais sensíveis, são prejudicadas. Segundo a especialista do Departamento de Biologia da Universidade de Évora – Portugal, Alexandra Costa, as plantas diante de um stress hídrico, mesmo este sendo temporário, perdem vitalidade podendo regredir a um dano irreversível. Esse stress deriva das oscilações entre absorção e perda de água, o balanço hídrico. Tais alterações na fisiologia da planta resultam na baixa produção e até na morte de algumas espécies.
Sendo assim, as famílias arrecadam menos devido à redução dos produtos. Ademais, na cidade podem-se encontrar outros resultados dessa situação, como o aumento do preço das mercadorias ou até a falta delas nas feiras locais e nas Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa).
No entanto, há aqueles que opinam a favor dessa medida argumentando como direito imprescindível o abastecimento hídrico à população. Tal argumento é irrefutável, porém discordo da adoção da providência em questão e penso que o melhor seria o incentivo à preservação de nascentes, como o Programa Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas – ANA, que traria resultados significativos e  duradouros. Outra ação de extrema importância seria a fiscalização de construções ilegais de poços, barragens e desvios de corpos d’água.
Ainda, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural – INCAPER, uma saída seria ter ajuda com assistência técnica especializada para que os agricultores pudessem implantar sistemas de irrigação como o gotejamento e a micro aspersão que proporcionariam a redução do volume de água utilizada, ambos bem mais econômicos. No caso das hortaliças folhosas, poderiam ser empregados o cultivo protegido (estufas) e a hidroponia.
Além disso, devemos considerar que a irrigação é indispensável para a sobrevivência do pequeno produtor rural, como afirma o produtor Eder Paulo Uliana: “Precisamos irrigar para sobreviver, mas reconhecemos a importância de economizar água. O que me insatisfaz é saber que, assim como no passado, muitos ainda não se preocupam e continuam a destruir esse bem que é de todos”.
Concluindo, a preocupação com a água, bem precioso e essencial, deve ser constante, regada de conscientização e comprometimento, para que não seja necessário recorrer a medidas extremas como o lacramento de bombas. Por último, a nossa comunidade necessita de apoio e incentivos que equilibrem os direitos e as necessidades de todos os envolvidos para que possamos conservar o verde de nossas plantações, tão importante para as famílias do nosso município.


Texto 2
Autora: LAYSA GILLES GUIDI
Série: 7º ano

O peso do ferro
 
Como esquecer uma coisa que fiz por tantos anos, minha querida? Com certeza não me lembrarei de tudo, mas uma grande parte do que vivi está gravada em mim para sempre. Só me dê um minuto... se bem me lembro...
Os raios do sol penetravam entre as frestas das ripas de madeira lascada que me protegiam do choro do céu, do calor do dia e do sopro gelado do entardecer. Estes raios me diziam, cautelosamente, que o sol resolvera sair de seu costumeiro esconderijo, atrás das montanhas. Montanhas que guardavam as pessoas habitantes da pequena vila de nome Araguaya. Quando abria meus olhos despertava todos os outros sentidos de meu corpo e imediatamente podia sentir o maravilhoso aroma de eucalipto e som de suas folhas balançando com a ventania. Esse era o sinal de que o dia já havia raiado. Era hora de me levantar para ir novamente ao trabalho que me aguardava.
Então, saía descalço e sonolento pela casa onde morava. O chão de terra batida calçava meus pés com terra e poeira enquanto eu procurava a pequena mesa da cozinha, que ficava no mesmo cômodo que o quarto e a sala. Quando conseguia alcançá-la, pegava um copo qualquer e colocava nele dois dedos do quente e amargo café que me punha em alerta logo cedo. E o bebia junto com uma fatia de pão, que minha mãe fazia questão de preparar. Feito isso ia me trocar, colocava uma roupa bem velha, já que chegaria de volta todo sujo de carvão, e seguia em frente.
Ia andando ao clarear do dia, admirando as casinhas, simples, feitas de estuque – casas com a base feita de bambu e as paredes feitas de barro e argila batida – e ainda podia ver, ao longe, casas de tijolos e cimento, coisa que naquela época era só para quem tinha muito dinheiro. Havia também casas de madeira lascada, como a minha. Ainda andava sozinho, pois era cedo e muitas pessoas dormiam quietamente no aconchego de suas casas naquela vila italiana. Mas ia alegre, ouvindo a melodia dos pássaros, o canto das cigarras e o coaxar dos sapos.  Mas logo essa sinfonia era suspensa pelo tilintar dos ferros e instrumentos da fábrica de ferramentas da região, lugar onde eu trabalhava. Tuque-tuque tá-tá, tuque-tuque tá-tá... Cada vez mais forte... Tuque-tuque tá-tá, tuque-tuque tá-tá... E mais forte... TUQUE-TUQUE TÁ-TÁ, TUQUE-TUQUE TÁ-TÁ... Esse era o som que perseguia desde meninos de treze até homens de cinquenta anos que viviam na região e precisavam de dinheiro. Esse foi o som que me perseguiu por quarenta e oito anos, o som das marretas moldando as chapas de ferro quente. Marretas, facas, foices... Todo o trabalho era feito à mão, o que garantia a qualidade do produto, mas me destruía, me corroía.
Eu e os demais funcionários não tínhamos uniformes que nos protegessem das fornalhas, fones que nos protegessem do barulho das marretas, óculos que nos protegessem das faíscas que levantavam freneticamente do amolador. Tínhamos apenas nossas famílias que precisavam de nós.
Ficava na fábrica dez horas por dia, das sete da manhã às cinco da tarde. Quando saía de lá estava coberto de carvão, as roupas todas molhadas de suor e parecia que todo o ferro que havia moldado estava sobre meus ombros – Que peso! – Não adiantava comprar roupas bonitas para trabalhar, pois cada muda de roupa – conjunto de calça e camisa –, quando usada para trabalhar, durava apenas vinte dias, nada mais, nada menos.
Mas também havia uma coisa boa naquele lugar. Todo dia poder ver meus amigos, me divertir com eles. O que fazíamos e que eu jamais vou esquecer eram as modas de viola. Durante a hora do almoço, comíamos depressa. E como todos nós sabíamos tocar viola, cada dia era um que tocava.
Hoje, ainda moro em Araguaya, perto da fábrica, que está mais mecanizada, e os funcionários não trabalham nas mesmas condições em que eu trabalhava. Eles já possuem uniformes e proteção contra o barulho, o fogo, o calor... e  grande parte do trabalho ainda é manual. Às vezes, ainda escuto o “tuque-tuque tá-tá”, tanto de dia, quanto de noite, pois faz parte de minhas memórias. Está gravado em mim. À noite.. tuque-tuque  tá-tá... deito em minha cama... tuque-tuque  tá-tá... fecho os olhos...tuque-tuque  tá-tá.... e simplesmente... tuque-tuque  tá-tá.... adormeço.



(Texto: Ana Paula Mill / Fotos: EEEFM Victório Bravim)



Nenhum comentário: