
Duas alunas da EEEFM Victório Bravim estão classificadas
para as oficinas regionais da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP), que
acontecem nos meses de outubro e novembro.
Este ano, o tema da olimpíada é “O lugar onde eu vivo”. Lorena João
Daniel, 16 anos, viaja para São Paulo (SP), e Laysa Gilles Guide, 13 anos, vai
para Fortaleza (CE).
Os dois textos já passaram pelas comissões escolar,
municipal e estadual. Com a classificação para a regional, as duas estudantes
já garantem a medalha de bronze na OLP. Durante as oficinas, elas terão uma
programação de estudo e aprimoramento de textos, além de uma programação
cultural. As oficinas reúnem 125 professores e 125 alunos de todo o Brasil. A Olimpíada de Língua Portuguesa acontece de
dois em dois anos, para os alunos.
Lorena João Daniel, 16 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio
– que já foi classificada na edição passada da OLP – participa da categoria “Artigo
de Opinião”. Com o tema “Água”, ela fez um texto que fala sobre as bombas de
irrigação. Ela é acompanhada pela professora Luciene Gilles Guidi.
As duas seguem para
São Paulo, onde participam das oficinas nos dias 25, 26 e 27 de outubro. “É uma
experiência enriquecedora, tanto para professores e, principalmente, para os
alunos”, ressaltou Luciene.
Laysa Gilles Guidi,
13 anos, que cursa o 7º ano, participa da categoria: “Memórias Literárias”. Sob
orientação da professora Ana Paula Breda, a estudante escreveu um texto baseado
na história do Sr. Nelson Calvi, que trabalhou durante mais de 40 anos na
fábrica de ferramentas LP, em Araguaia. A
oficina dessa categoria acontece em Fortaleza (CE), nos dias 16, 17 e 18 de
novembro.
A EEEFM Victório Bravim ficou em 1º lugar entre as escolas
públicas estaduais no Enem 2015. O resultado, que foi bastante comemorado, foi
divulgado no início deste mês.
Confira os textos
classificados
Texto 1
Autora: LORENA JOÃO DANIEL, 16 anos
3º Ano do Ensino
Médio
Água: a solução está nas bombas?
Entre montanhas e vales, na Região Serrana
do Estado do Espírito Santo, encontra-se Victor Hugo, uma comunidade
basicamente agrícola, onde as famílias sobrevivem da produção de café e
hortaliças. Lugar tranquilo, de poucos habitantes, mas que também enfrenta
problemas.
Atualmente, grande parte do país sofre com a
crise hídrica, e nessa localidade não é diferente. Com o uso inadequado das
nascentes, agravado pela falta de chuva, muitos rios e córregos diminuíram seus
níveis ou até secaram. Essa situação atingiu a todos, inclusive aos
agricultores, dando início à seguinte polêmica: Será que é justo e aceitável
privar os produtores de irrigar suas plantações para que se possa priorizar o
abastecimento humano e a dessedentação animal? Tal questão foi gerada a partir
da medida do governo estadual em conjunto com os municípios de restringir o uso
de bombas de captação de água para irrigação e aqueles que não obedecessem à
solicitação seriam notificados e posteriormente multados, tendo suas bombas
lacradas.
Pessoalmente, acho que isso é injusto, pois
ao mesmo tempo que se tenta amenizar o risco da escassez para uns, provoca-se
sérias consequências para outros. É indiscutível que a partir do momento que
não se pode irrigar em determinadas horas, várias culturas agrícolas, por serem
mais sensíveis, são prejudicadas. Segundo a especialista do Departamento de
Biologia da Universidade de Évora – Portugal, Alexandra Costa, as plantas
diante de um stress hídrico, mesmo este sendo temporário, perdem vitalidade
podendo regredir a um dano irreversível. Esse stress deriva das oscilações
entre absorção e perda de água, o balanço hídrico. Tais alterações na
fisiologia da planta resultam na baixa produção e até na morte de algumas
espécies.
Sendo assim, as famílias arrecadam menos
devido à redução dos produtos. Ademais, na cidade podem-se encontrar outros
resultados dessa situação, como o aumento do preço das mercadorias ou até a
falta delas nas feiras locais e nas Centrais de Abastecimento do Espírito Santo
(Ceasa).
No entanto, há aqueles que opinam a favor
dessa medida argumentando como direito imprescindível o abastecimento hídrico à
população. Tal argumento é irrefutável, porém discordo da adoção da providência
em questão e penso que o melhor seria o incentivo à preservação de nascentes,
como o Programa Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas –
ANA, que traria resultados significativos e duradouros. Outra ação de extrema importância
seria a fiscalização de construções ilegais de poços, barragens e desvios de
corpos d’água.
Ainda, segundo o Instituto Capixaba de
Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural – INCAPER, uma saída seria ter
ajuda com assistência técnica especializada para que os agricultores pudessem
implantar sistemas de irrigação como o gotejamento e a micro aspersão que
proporcionariam a redução do volume de água utilizada, ambos bem mais
econômicos. No caso das hortaliças folhosas, poderiam ser empregados o cultivo
protegido (estufas) e a hidroponia.
Além disso, devemos considerar que a
irrigação é indispensável para a sobrevivência do pequeno produtor rural, como
afirma o produtor Eder Paulo Uliana: “Precisamos irrigar para sobreviver, mas
reconhecemos a importância de economizar água. O que me insatisfaz é saber que,
assim como no passado, muitos ainda não se preocupam e continuam a destruir
esse bem que é de todos”.
Concluindo, a preocupação com a água, bem
precioso e essencial, deve ser constante, regada de conscientização e
comprometimento, para que não seja necessário recorrer a medidas extremas como
o lacramento de bombas. Por último, a nossa comunidade necessita de apoio e
incentivos que equilibrem os direitos e as necessidades de todos os envolvidos
para que possamos conservar o verde de nossas plantações, tão importante para
as famílias do nosso município.
Texto 2
Autora: LAYSA GILLES GUIDI
O peso do ferro
Como esquecer uma coisa que fiz por tantos anos,
minha querida? Com certeza não me lembrarei de tudo, mas uma grande parte do
que vivi está gravada em mim para sempre. Só me dê um minuto... se bem me
lembro...
Os raios do sol penetravam entre as frestas das
ripas de madeira lascada que me protegiam do choro do céu, do calor do dia e do
sopro gelado do entardecer. Estes raios me diziam, cautelosamente, que o sol
resolvera sair de seu costumeiro esconderijo, atrás das montanhas. Montanhas que
guardavam as pessoas habitantes da pequena vila de nome Araguaya. Quando abria
meus olhos despertava todos os outros sentidos de meu corpo e imediatamente
podia sentir o maravilhoso aroma de eucalipto e som de suas folhas balançando
com a ventania. Esse era o sinal de que o dia já havia raiado. Era hora de me
levantar para ir novamente ao trabalho que me aguardava.
Então, saía descalço e sonolento pela casa onde
morava. O chão de terra batida calçava meus pés com terra e poeira enquanto eu
procurava a pequena mesa da cozinha, que ficava no mesmo cômodo que o quarto e
a sala. Quando conseguia alcançá-la, pegava um copo qualquer e colocava nele
dois dedos do quente e amargo café que me punha em alerta logo cedo. E o bebia
junto com uma fatia de pão, que minha mãe fazia questão de preparar. Feito isso
ia me trocar, colocava uma roupa bem velha, já que chegaria de volta todo sujo
de carvão, e seguia em frente.
Ia andando ao clarear do dia, admirando as
casinhas, simples, feitas de estuque – casas com a base feita de bambu e as
paredes feitas de barro e argila batida – e ainda podia ver, ao longe, casas de
tijolos e cimento, coisa que naquela época era só para quem tinha muito
dinheiro. Havia também casas de madeira lascada, como a minha. Ainda andava
sozinho, pois era cedo e muitas pessoas dormiam quietamente no aconchego de
suas casas naquela vila italiana. Mas ia alegre, ouvindo a melodia dos
pássaros, o canto das cigarras e o coaxar dos sapos. Mas logo essa sinfonia era suspensa pelo
tilintar dos ferros e instrumentos da fábrica de ferramentas da região, lugar
onde eu trabalhava. Tuque-tuque tá-tá, tuque-tuque tá-tá... Cada vez mais forte...
Tuque-tuque tá-tá, tuque-tuque tá-tá... E mais forte... TUQUE-TUQUE TÁ-TÁ,
TUQUE-TUQUE TÁ-TÁ... Esse era o som que perseguia desde meninos de treze até
homens de cinquenta anos que viviam na região e precisavam de dinheiro. Esse foi
o som que me perseguiu por quarenta e oito anos, o som das marretas moldando as
chapas de ferro quente. Marretas, facas, foices... Todo o trabalho era feito à
mão, o que garantia a qualidade do produto, mas me destruía, me corroía.
Eu e os demais funcionários não tínhamos uniformes
que nos protegessem das fornalhas, fones que nos protegessem do barulho das marretas,
óculos que nos protegessem das faíscas que levantavam freneticamente do
amolador. Tínhamos apenas nossas famílias que precisavam de nós.
Ficava na fábrica dez horas por dia, das sete da
manhã às cinco da tarde. Quando saía de lá estava coberto de carvão, as roupas
todas molhadas de suor e parecia que todo o ferro que havia moldado estava
sobre meus ombros – Que peso! – Não adiantava comprar roupas bonitas para
trabalhar, pois cada muda de roupa – conjunto de calça e camisa –, quando usada
para trabalhar, durava apenas vinte dias, nada mais, nada menos.
Mas também havia uma coisa boa naquele lugar. Todo
dia poder ver meus amigos, me divertir com eles. O que fazíamos e que eu jamais
vou esquecer eram as modas de viola. Durante a hora do almoço, comíamos depressa.
E como todos nós sabíamos tocar viola, cada dia era um que tocava.
Hoje, ainda moro em Araguaya, perto da fábrica, que
está mais mecanizada, e os funcionários não trabalham nas mesmas condições em
que eu trabalhava. Eles já possuem uniformes e proteção contra o barulho, o
fogo, o calor... e grande parte do
trabalho ainda é manual. Às vezes, ainda escuto o “tuque-tuque tá-tá”, tanto de
dia, quanto de noite, pois faz parte de minhas memórias. Está gravado em mim. À
noite.. tuque-tuque tá-tá... deito em
minha cama... tuque-tuque tá-tá... fecho
os olhos...tuque-tuque tá-tá.... e
simplesmente... tuque-tuque tá-tá....
adormeço.
(Texto:
Ana Paula Mill / Fotos: EEEFM
Victório Bravim)